quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Raul- Passou sorrateiro por esse mundo e foi deixar o céu felino muito mais elegante



Doze anos de elegância, miados sonoros, passagens sorrateiras por todos os cômodos da casa. Suavidade no andar. Olhar um pouco enviesado. Dizia palavras: Paulo, Raul, Mãe... Só quem conheceu acredita. Quem não conheceu, perdeu. Abro esse espaço no meu blog, tão abandonado, para homenagear quem meu pai sempre chamou de "entidade felina"; Raul ( Raul Jungmann para meu pai, Ícaro para minha irmã, Ukki para minha mãe).

Um gato como deveriam ser todos: soberano e magnânimo. Sempre com suavidade, quase imperceptível, preto e branco e grande. Forte e em forma. Carinhoso na hora certa (quase sempre a de comer, como são pilantrinhas os gatos). Passou por uma mudança de casa e cidade, mas continuou na sua velha forma. Falava, conversava, reclamava. Geralmente em busca de comida. Exímio gourmet, gostava de ração boa e peito de peru.

Na juventude um fanfarrão brigão; saía de casa de noite ficava de boemia e brigas pelo bairro. Chegava na manhã seguinte miando e pedindo cuidados: arranhado, mas com pose de vitória. Foram intermináveis batalha noturnas até cortarmos suas gracinhas. Mas ao contrário de outros gatos castrados, ele não engordou. Sempre preocupado com a sua forma. E com seu peito de peru, como ele adorava peito de peru... Mas ficou mais caseiro. E nem por isso menos misterioso... Isso, se pudesse definir a "entidade felina" numa palavra seria essa: misterioso.

Passou por uma situação extrema nesse natal. Deixou a todos preocupados e minha mãe louca. O coitadinho quase morreu, por algum motivo misterioso. Foi um ensaio duro e triste para o que veio ocorrer há dois dias: Raul foi desfilar sua elegância no céu dos gatos. Onde com certeza hão de respeitá-lo como respeitavam aqui na Terra. Nenhum dos nossos outros gatinhos por aqui se metiam com ele. Nem Pâmela, nossa cachorrinha, que aliás dividiu muitas tardes de observação do mundo através da janela da sala...

Já muito foi cantado sobre como os bons morrem jovens. Raul já não era tão jovem, mas tinha muita estrada pela frente e era muito bom. Mas quis a vida, o destino, Deus, Buda ou simplesmente a mãe natureza, que ele fosse mais cedo. E deixou aqui muita tristeza no coração de quem assistiu sua elegância, malandragem, carinho e suavidade.

Faço aqui um arremedo de poema em honra do gato mais elegante que o mundo já conheceu. Raul Jungmann Ícaro Ukki;

Patas róseas que quase não pisam o chão
Sorriso felino irônico e muita conversa...
Suave balanço, andar de John Wayne...
Lá se foi Raul

Preto e branco como um bom gato
Fortes pernas saltando muros
Palavras inacreditáveis desferidas
Estrabismo leve e encantador
Lá se foi Raul.

Respeito dos outros felinos
Respeito até de cães...
Juventude transviada
Loucura por peito de peru...
Lá se foi Raul.

Corações partidos pelo caminho
Lágrimas de saudade de quem o viu miar
Tristeza da ausência inesperada
Na nossa história sempre ficará
Lá se foi Raul


Esse blog voltará em breve às operações. Por enquanto estamos de luto. Lá se foi Raul...

Beijos e abraços